segunda-feira, 15 de setembro de 2008

PRIMEIRA FAVELA DO RIO - PROVIDÊNCIA






Pesquisa: José Carlos Melo / Guia de Turismo

"Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente
Na Favela onde eu nasci
É...
E poder me orgulhar
E ter a consciência
Que o pobre tem o seu lugar
Fé em Deus ..."
(Rap da Felicidade - Cidinho e Doca)
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ORIGEM DA PRIMEIRA FAVELA DO RIO DE JANEIRO

Foto 01 - Em DEUS somos UM; em JESUS CRISTO somos todos irmãos.Foto 02 - População negra habitante do Morro da Babilônia, RJ (cerca de 1910)
Foto 03 - Sobreviventes da Guerra de Canudos, fotografados em 1897.
Foto 04 - Morro da Favela (Providência) em 1958.
Foto05 - Morro da Favela. Favela: "Conjunto de habitações populares, em geral toscamente construidas e usualmente deficiente de recursos higiênicos". (Definição do Mini-Dicionário Aurélio.)
Foto 06 - Ano 1983 /"Cenas de violação dos direitos civis e humilhação impostas a um grupo de homens negros capturados durante uma blitz da PM num morro Carioca - mais tarde ficou provado que todos eram trabalhadores e sem nenhum registro criminal." Por José Reinaldo Marques, 08/07/2005 - Fotojornalismo prêmio ESSO; Luiz Morier.
"O pobre é humilhado e esculachado na favela
Já não aguento mais essa onda de violência
Só peço as autoridades um pouco mais de competência."
(Rap da Felicidade - Cidinho e Doca)
Foto 07: O Secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame no "baile de gala" de debutantes do Morro da Providência, promovido bela Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Foto Jornal O DIA.16.08.2010
Foto 08: As jovens da comunidade no baile de gala. Jornal do DIA.Foto 16.08.2010.
"Policiais viram "principes" de jovens da FAVELA da providência, em baile de gala de debutantes. A festa de 15 jovens para 200 convidados, realizada no Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa, foi idealizado pelo comandante da UNIDADE (foto alto.05), capitão Glauco Shorcht, e financiado por 9 empresas. Ao lado de outros 13 comandantes e subcomandantes de UPPS e do BELTRAME, GLAUCO foi um dos "principes" das debutantes, escolhidas em cadastros de programas sociais e por critérios comos aproveitamento e frequência escolar." Por: João Ricardo Gonçalves. Jornal O DIA, RIO, 10.08.2010
Foto 09: O comandante da UPP, Capitão Glauco Schorcht, 34 anos, está mapeando os pontos turísticos da Providência e pretende colocar os moradores para trabalhar como guias. Um dos locais do roteiro é a igreja Nossa da Peña, no ponto mais alto da Favela.
"Vamos tentar resgatar essa história. A caixa d´água ao lado da igreja, por exemplo, foi construida por escravos e a cruz teria sido trazida por militares da Guerra de Canudos", explicou o oficial. Entre os primeiros moradores da Providência, no fim do século 19, estavam soldados que combateram o movimento liderado por Antônio Conselheiro em Canudos. Abril/2010, Jornal O DIA.
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LUGAR DE ESQUECIMENTO

"Todo brasileiro, mesmo o alvo de cabelo louro, traz na alma,
quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos
a pinta, do indígena ou do negro..." (Gilberto Freire)

Por Roger Almeida

(...) A onipresença das favelas cariocas é a marca mais concreta do Brasil-República.
A imponência de favelas como Rocinha, Cantagalo e Vidigal transpõe os cartões-postais da Zona Sul carioca e há pouco mais de um século são entraves aos projetos urbanísticos excludente da cidade. “Pode-se dizer que as favelas tornaram-se uma marca da capital federal (no período da República Velha), em decorrência (não intencional) das tentativas dos republicanos radicais e dos teóricos do embranquecimento – incluindo-se aí os membros de várias oligarquias regionais – para torná-las uma cidade européia”, como afirmam Alba Zaular e Marcos Alvito na introdução do livro “Um século de Favela”.
O prefeito Cândido Barata Ribeiro, em 26 de janeiro de 1893, botou abaixo o cortiço Cabeça de Porco, considerado o maior da cidade. Francisco Pereira Passos, em março de 1904, com a demolição de 641 casas, desalojou quase 3.900 pessoas. Esses projetos de reforma urbana, especialmente segregacionista, deram início a um processo de ocupação e povoamento dos morros da cidade. A primeira favela do Brasil surgiu em 1897, no centro da cidade do Rio de Janeiro, para abrigar homens, mulheres e crianças que não faziam parte do projeto progressista dos homens da República.
As reformas urbanas na capital federal marcaram a gestão do prefeito Pereira Passos entre os anos de 1902 a 1906. A construção da Avenida Central foi um dos eventos que marcam o período republicano. Nesses anos, em que a cidade se transformou num canteiro de obras, foram erguidas dezenas de monumentos que permaneceriam na memória dos habitantes da cidade como uma construção dos homens do Brasil republicano. Contudo, junto da edificação do boulevard que ligava a região portuária à Zona Sul carioca surgiam os casebres de açafrão e de ocre. O Rio de Janeiro estava sendo construído como uma nova cidade, moderna, europeizada, capaz de ser o cartão-postal da recém-criada República. Contrariando esse ideal, as favelas passaram a ser vistas como outras cidades, corpos estranhos dentro da urbe formal.
Esses corpos estranhos não poderiam estar inseridos no projeto republicano que estava sendo construído na cidade do Rio de Janeiro. O Morro da Favela, considerada a primeira favela do Brasil, a partir do ano de 1897 abrigou remanescente dos cortiços do centro do Rio, ex-escravos do Vale do Paraíba e os soldados desamparados da Guerra de Canudos e todos aqueles que jamais seriam retratados na poesia de Olavo Bilac. A favela erigia-se como monumento na região da Central da Brasil em frente a praça da Aclamação (hoje Praça da República), lugar onde os célebres militares marcharam para proclamar a República brasileira em novembro de 1889. Hoje, conhecemos o antigo Morro da Favela como Favela da Providência, que ainda pode ser vista atrás da Central do Brasil, entre os bairros do Santo Cristo e Gamboa.
O Morro da Favela é a representação do que deveria ser esquecido para os republicanos da época. Nas lembranças da República Velha estão catalogadas, não oficialmente, as favelas do Rio de Janeiro e do Brasil porque foi a partir desse momento que iniciaram as desastrosas políticas urbanísticas para as cidades.
Se hoje nós olharmos o Morro da Providência lembraremos do prefeito Pereira Passos, do presidente Rodrigues Alves, da República Velha, pois ali se construiu o avesso de um lugar de memória, um lugar de esquecimento.
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MORRO DA PROVIDÊNCIA, chamado FAVELA. (Foto 04 e 05 / alto)"Ao regressarem das expedições constra Antônio Conselheiro (campanha de Canudos), no final do século XIX, receberam os soldados do Coronel Moreira Cesar e do General Artur Oscar alguns recursos para instalar-se em casa própria no Rio, e foi ali, nas abas da Providência, que eles o fizeram, logo disseram que ela era a sua "FAVELA" Carioca, numa alusão ao morro do sertão baiano de onde a artilharia legalista bombardeava o reduto daqueles jagunços misticos... E o nome popularizando, ficou sendo também dos nossos demais conglomerados humanos semelhantes para afinal, figurar depois no diocionário como novo brasileirismo bem típicos dos tempos modernos, nas nossas atravancadas metrópoles." - Brasil Gerson / Ruas do Rio.
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A GUERRA DE CANUDOS
Autores: Nelson Piletti, Claudino Piletti e Thiago Tremonte

Por volta de 1870, um homem que passou a percorrer a pé o sertão nordestino começou a chamar a atenção de muitas pessoas. Seu nome: Antônio Vicente Mendes Maciel, que se tornou conhecido como Antônio Conselheiro, por das conselhos às pessoas que se reuniam à sua volta.
Filho de um pequeno comerciante de Quixeramobim, Ceará, Antônio nasceu em 1828. Aos 6 anos perdeu a mãe e, aos 27, ficou órfão de pai. Passou então a cuidar dos negócios da família, que abandonou dois anos mais tarde para casar-se e ser professor em uma escola de fazenda. Tornou-se escrivão de cartório e rábula (advogado sem diploma). Mas um problema pessoal acabou por mudar totalmente sua vida: traído pela mulher, que fugiu com outro homem, Antônio passou a andar pelo Nordeste restaurando igrejas e cemitérios. Além disso, começou a ler e a pregar o Evangelo, ouvindo os problemas das pessoas e dando-lhes conselhos.
Com a proclamação da República, em 1889, Antônio Conselheiro começou a manifestar-se contra o casamento civil e os impostos municipais, medidas implantadas pelo novo regime. Em 1893, na cidade de Bom Conselho, no norte da Bahia, Antônio Conselheiro mandou arrancar e queimar os papéis com orientações sobre o pagamento de impostos que estavam afixados em locais públicos da cidade. Passou então a ser perseguido pela polícia. Ele e seus seguidores refugiaram-se numa fazenda em ruínas, próxima a Bom Conselho, chamada CANUDOS.
De 1893 a 1897, cerca de 25 mil sertanejos, liderados por Antônio Conselheiro, formaram a comunidade de Canudos. Cultivavam produtos como mandioca, milho, feijão, batata-doce e desenvolviam a criação de cabras. A formação de pastagens, a criação de rebanhos e as colheitas eram tarefas realizadas pelos homens. As mulheres confeccionavam roupas, fabricavam cestos e sandálias e cuidavam da casa. Conselheiro, além de chefe espiritual, era uma espécie de prefeito. Em suas pregações, costumava fazer profecias.
O arraial de Canudos foi se tornando conhecido e atraindo pessoas de regiões distantes. As autoridades viam em Conselheiro um subversivo. Além disso, não sabiam quais eram suas reais intenções e o acusavam de defender o regime monárquico... Em 1896, o governo da Bahia recebeu a informação de que a cidade de Juazeiro seria atacada por homens de Antônio Conselheiro. Uma força militar foi preparada para proteger a cidade, mas o ataque não se realizou. As autoridades decidiram então organizar expedições contra Canudos.
As casas do arraial eram muito simples. Na maioria, eram construções de pau-a-pique com telhados de palha e apenas uma minúscula saleta, um quarto e uma cozinha. Agrupavam-se sem nenhuma ordem ao redor de algumas praças e das duas igrejas, a velha e a nova. Isso fazia de Canudos um labirinto. Alguns historiadores acham mesmo que o Conselheiro escolheu aquele local prevendo futuros ataques armados de seus inimigos...
O governo do estado da Bahia enviou um destacamento de cerca de 100 homens, sob o comando de um tenente, para prender Antônio Conselheiro e dispersar seus seguidores... Já nesses primeiros combates fica claro que as condições da região favoreciam o Conselheiro e seu grupo, para quem o sertão era terreno bem conhecido.

EXPEDIÇÕES CONTRA CANUDOS
Foram quatro expediçoes contra Canudos - duas estaduais e duas federais. Na primeira delas, em 1896, um tenente comandou cem homens, que foram vencidos depois de um violento combate corpo a corpo. A imprensa baiana começou a mandar notícias alarmantes para o Rio de Janeiro, segundo as quais o Conselheiro seria um anarquista e o sertanejos seriam uns bárbaros. aguns setores da imprensa descreviam o Conselheiro como um defensor da monarquia, contrário à República.
A segunda expedição, comandada por um major, contou com 250 homens. Partiu triunfante, certa da vitória fácil, e voltou derrotada, tendo perdido mais de cem soldados.
Prudente de Morais, presidente na época, ficou indignado e convocou, para o comando de uma nova expedição, o coronel Moreira Cesar, famoso pela violência utilizada contra os voltosos da Revolução Federalista (1893-1895), no sul do país.
Moreira Cesar acreditava que seus batalhões derrotariam facilmente Canudos. Mas a realidade foi outra: escondidos entre os arbustos, nas grutas e entre as pedras, procurando a luta corpo a corpo, os sertanejos resistiram bravamente. Os canhões, as metralhadoras e os fuzis dos soldados não foram suficientes para liquidar os sertanejos. Muitos militares morreram dentro do arraial, inclusive Moreira César. Os que sobreviveram fugiram aterrorizados, deixando armas e munições.
Para o governo federal, a brutal derrota e a debandada dos seus soldados eram vergonhosas. Assim, o próprio ministro da Guerra passou a dirigir as operações contra Canudos. Em abril de 1897, convocou dois generais para o comando da quarta expedição: Artur Oscar e Cláudio do Amaral Savaget, que partiram de locais diferentes. Mas de 7 mil soldados foram recrutados em todos os estados.
A imprensa procurou influenciar seus leitores: o Exército iria salvar a República. Alguns jornalistas foram autorizados a acompanhar as tropas. Entre eles estava o engenheiro Euclides da Cunha.
No dia 24 de setembro de 1897, Canudos estava cercada. Foram dez dias de violentos combates. No dia 5 de outubro, os últimos resistentes foram mortos. O arraial estava destruido.

EUCLIDES DA CUNHA
A Guerra de Canudos tornou famoso um até então desconhecido engenheiro e jornalista: Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha. Nascido em Cantagalo, Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1866, foi um dos principais repórteres a acompanhar a última expedição contra Canudos.
Tendo abandonado a carreira militar pela engenharia, foi na literatura que mais se destacou. Em 1897, Euclides da Cunha foi enviado pelo jornal O Estado de S. Paulo para acompanhar a guerra contra Canudos, onde recolheu o material que lhe possibilitou escrever Os Sertões, obra publicada em 1902 e considerada um clássico da literatura latino-americana. Graças a essa obra, tornou-se um dos mais importantes autores da literatura brasileira, sendo eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1903.
Euclides da Cunha morreu assassinado no Rio de Janeiro em 1909.
Leia, a seguir, um trecho extraído de Os sertões.
Fechemos este livro.
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.
Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.
Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem...
Ademais, não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos...
...a quem devemos preciosos esclarecimentos sobre esta fase obscura da nossa História? Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5200, cuidadosamente contadas.

1 comentário:

BAIXADA REGGAE disse...

Temos os nossos valores na paz!!