segunda-feira, 15 de setembro de 2008

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA E A ILHA GRANDE





"O Imperador era um
homem sempre de rosto
limpo e bem tratado."
(João Antônio Guaraciaba - escravo)
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Altura: 1,90 metro;
Olhos azuis e queixo proeminente.
Aos quatorze anos, falava quatro idiomas
e lia tudo que podia.

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Nome completo:
Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador
Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel
Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Habsburgo
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Ilustração acima (4): Entrega da mensagem à D. Pedro II, pelo Major Solon, no dia 16 de Novembro de 1889, intimando-o a deixar o país dentro de 24 horas. ....................................................................
No alto, 3 aspectos do Imperador Dom Pedro II: 01) em fotografia de autor desconhecido. 02) em gravura de Modesto Brocos. 03) em pintura. ...................................................................
"Eu sou republicano. Todos o sabem.
Se fosse egoísta, proclamava a República
para ter as glórias de Washington."
(D Pedro II)

 "Nasci para consagrar-me às letras e às ciências,
e, a ocupar posição política, preferiria a de
presidente da República ou ministro à de imperador."
(D Pedro II)
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PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA E A ILHA GRANDE


Usurpação de poder, covardia, traição e desumanidade caracterizaram o desfecho do movimento republicano “liderado” pelo marechal Deodoro da Fonseca contra o seu próprio amigo e protetor, o Imperador D. Pedro II, com 63 anos de idade, saúde debilitada, quando a dois passos já (estou) estava da morte, como ele mesmo definiu posteriormente o seu quadro existencial. Essas palavras proféticas se cumpriram lá na França, exatamente “dois anos” (750 dias) depois de ter sido cuspido do Brasil, país que amava sem reservas.
"A vida de Petrópolis agrada-me muito...Aqui trabalho melhor que no Rio, apesar dos dois passeios que faço todos os dias." (D Pedro II)
Em 15 de novembro de 1889, sexta-feira, dia em que teve início a queda do Regime Monárquico no Brasil, D. Pedro II estava gozando férias em Petrópolis com a sua família.
Na véspera, o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, cumpriu a missão de espalhar o boato de que Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant tinham sido presos pela polícia imperial. O objetivo era acirrar os ânimos dos militares contra o Império, e assim, aproveitar a agitação dos mesmos para derrubar a Monarquia e implantar o regime Republicano no Brasil. A suja missão teve êxito. Anterior a essa data, D. Pedro já havia sido alertado sobre Deodoro e o deslocamento de tropa, porém teimoso, sempre considerava como um mero “motim militar”. Quando não, respondia: "Manuel Deodoro é meu amigo, tenho-o protegido e a toda a família".
O protegido do imperador (hoje, herói nacional) e Benjamin Constant, na madrugada de 15 de novembro, conduziram as tropas na direção do Campo de Santana, para fazer o cerco do Ministério, “onde numa sala do quartel-general, estava reunido o ministério, já informado sobre a suspeita movimentação das tropas.” Motivo pelo qual, haviam sido colocados, por determinação do governo, 2000 homens, entre soldados e marinheiros, no pátio interno e na frente dos edifícios. Pasmem! “Prestaram continência a Deodoro e lhe deram vivas.”
Diante de tal situação e sem defesa, Ouro Preto, decidiu passar urgentemente ao Imperador, um telegrama, aonde lhe transmitia os últimos acontecimentos e pedia demissão. Não demorou muito, o velho Marechal estava diante do ministério demissionário, criticando asperamente a conduta política de Ouro Preto, de quem tinha grandes motivos de ressentimentos, em relação aos militares.
Veja o que disse um historiador (não anotei o seu nome):
“Não se pode afirmar que Deodoro desejasse de fato proclamar a República. Eram notórias as suas ligações com a família imperial e muito sintomáticas as referências que fez naquele momento à amizade de que unia ao imperador. Talvez admitisse, intimamente, como soluções, apenas a mudança do gabinete de Ouro Preto; porém Deodoro tinha avançado muito e, por isso, não mais lhe seria possível recuar.”
Num outro momento do mesmo dia, seguido pelas tropas, montado em seu cavalo emprestado, desfilou orgulhosamente pelas principais ruas do centro da cidade. Da sede do Jornal da Cidade do Rio, Rebouças assistiu o desfile de Deodoro. A participação popular foi nula. Segundo Aristides Lobo: O povo assistiu a tudo bestializado, pensando tratar-se de uma parada militar. “Deodoro acedeu ao apelo dos oficiais republicanos, dissolveu o governo e foi para casa dormir, com dispnéia, um tipo de falta de ar associado a doenças pulmonares ou cardíacas.” - Revista Veja. Até esse momento do dia, nem o próprio Marechal Deodoro, havia tomado conhecimento de qualquer decisão que se evidenciasse “Proclamação da República.”
Todos os fatos apontam para a seguinte realidade: “Os republicanos, sabendo do descontentamento de Deodoro, bem como de seu grande prestígio entre os homens de farda, procuraram ganhá-lo para a conspiração, pois entendia que, com o apoio dos oficiais, a República poderia surgir segura e rápida”. E assim se fez.
Provavelmente, Deodoro foi usado como um “testa de ferro”, “bode expiatório” ou até mesmo como um “trouxa útil”, quem sabe. Uma vítima que ganhou como prêmio os títulos de Proclamador da República, presidente do Governo Provisório e primeiro presidente da República do Brasil. Em sua homenagem, uma estátua encontra-se erguida em frente ao terminal das barcas Rio-Niterói, lá na atual Praça XV de novembro, centro do Rio de Janeiro; e há uma estação ferroviária na zona oeste do Rio, próximo a Vila Militar, batizada com o seu nome: Estação de Deodoro.

D Pedro II, convencido do grave problema decidiu descer para o Rio. Até então nada de Proclamação da República pelo protegido do imperador, embora, patrimônio público como a Escola Politécnica onde Rebouças lecionava já “tivesse sido tomada pelo republicano Antônio da Silva Jardim”.
Aos 31 anos de idade, Silva Jardim, o jornalista e militante republicano teve uma morte bizarra. Viaja para a Europa. Durante visita a Itália e curioso por conhecer o Vesúvio, mesmo tendo sido alertado dos perigos da excursão, caiu na cratera do vulcão napolitano.
Pedro e a sua filha princesa Isabel ainda procuraram salvar a monarquia, “sugerindo a formação de um ministério sob a orientação de Silveira Martins, inimigo pessoal de Deodoro. Alertado sobre esse fato, o velho imperador propôs o nome do Conselheiro José Antônio Saraiva, para o cargo anteriormente ocupado por Ouro Preto.
Entretanto, a ação do soberano viera muito tarde. Já nas primeiras horas do dia 16 (sábado), "o Diário Oficial publicava a notícia de ter sido proclamada a República e da organização de um governo provisório. O novo regime era um fato consumado. Este movimento resultou da união de três forças sociais: Exército, fazendeiros do Oeste Paulista e a classe média urbana."


D. PEDRO II E SUA FAMÍLIA PRISIONEIROS
Assim registrou Raul Pompéia o “procedimento enérgico para com os membros da dinastia dos príncipes do ex-império”, na manhã de sábado (16 de novembro) , dia oficial da Proclamação da República, na residência imperial, Paço da Cidade, transformada em prisão do Estado:
“A todas as portas do edifício principal, na manhã de sábado e às portas das outras habitações dependentes, ligadas pelos passadiços, foram postadas sentinelas de infantaria e numerosos carabineiros montados. O saguão transformou-se em verdadeira praça de armas.
Muitos personagens eminentes do Império e diversas famílias ligadas por aproximação de afeto à família imperial apresentaram-se a falar ao Imperador e aos seus augustos parentes, retrocedendo com desgosto de uma tentativa perdida. A proporção que passavam as horas, foi-se tornando mais rigorosa a guarda das imediações do palácio. As sentinelas foram reforçadas por uma linha de baionetas que a pequenos intervalos se estendeu pelo passeio, em todo o perímetro da imperial residência transformada em prisão do Estado.”
Só, nesse mesmo dia de sábado, um dia depois que havia descido com a família de Petrópolis para o Paço da Cidade, o imperador recebeu pelas mãos do major Sólon Ribeiro (o boateiro, Pai de Ana Emília Ribeiro, casada com o escritor Euclides da Cunha, e envolvida em tragédia passional.), a intimação do Governo Provisório, que teriam que partir para o exílio na madrugada seguinte. “Isabel chorou e Teresa Cristina, a imperatriz, afligiu-se quando Pedro comunicou o teor da mensagem que havia recebido: ele estava destituído, a República, proclamada, e a família real tinha 24 horas para deixar o país. "Pois, se tudo está perdido, haja calma. Eu não tenho medo do infortúnio", disse, recuperando o controle depois de receber (...) o aviso de que teriam de sair de imediato, sob o manto da escuridão.” - Revista Veja/2007
"O objetivo declarado dos republicanos era evitar que, num embarque durante o dia, simpatizantes mais exaltados do novo regime hostilizassem o monarca e seus familiares. O objetivo real era o oposto exato: tornar mais difícil que viessem à tona manifestações de solidariedade a D. Pedro II."
A condição de prisioneiro em que já se encontrava e a decisão covarde de Deodoro contra o próprio amigo e protetor, “provocou uma das poucas reclamações do imperador deposto. “Não sou nenhum (ou/escravo) fugido”, repetiu duas vezes. No mais, “nobre dignidade e perfeita segurança de si mesmo caracterizaram a compostura de Sua Magestade; nem ao menos uma palavra de queixa ou reprovação saiu de sua boca”, segundo descrição do embaixador da Áustria, conde Weisersheib, que no dia seguinte (17 novembro/domingo) acompanhou os netos do imperador até o navio que os levaria para a Europa.
André Rebouças (Tunel Rebouças), voluntariamente decidiu partir com eles para o exílio, e anos depois encontrado morto na África. Provavelmene suicidou-se. Registrou assim em seu diário de 16 de novembro: "Conclui partir para a Europa com a Família Imperial em lugar do Dr Benjamin Franklin Ramiz Galvão, impossibilitado de partir por numerosa família."


LEVADOS PARA A ILHA GRANDE (ENSEADA DO ABRAÃO)
A família teve de ser encaminhada, de lancha, ao cruzador Parnaíba, "onde aguardariam a chegada dos três filhos da princesa e só então navegariam para a Ilha Grande, para embarcar no Alagoas. Na sexta-feira, Isabel e seu marido imaginando que poderia haver tumultos no Rio, haviam enviado seus três filhos para Petrópolis na sexta-feira. Péssima idéia."
Além da mensagem intimando-o a deixar o país dentro de 24 horas, ofereceu-lhe, de uma vez, a quantia de 5 mil contos de réis para seu estabelecimento no exterior. Pedro (o melhor amigo de Deodoro), amargurado, recusou a oferta, "pedindo somente um travesseiro com terras do Brasil, para repousar a cabeça quando morresse," e partiu às três da madrugada para Portugal. A recusa dessa "oferta humilhante" por parte do ex-imperador deixou Deodoro (o melhor inimigo de Pedro) indignado.
Veja como foi despejado o Imperador, a Monarquia e toda Família Imperial. Registro histórico de uma testemunha ocular: Raul Pompéia.
“Às três da madrugada de domingo, enquanto a cidade dormia tranquilizada pela vigilância tremenda do Governo Provisório, foi o Largo do Paço teatro de uma cena extraordinária, presenciada por poucos, tão grandiosa no seu sentido e tão pungente, quanto foi simples e breve. (...)
Às três da madrugada, menos alguns minutos, entrou pela praça um rumor de carruagem. Para as bandas do largo houve um ruidoso tumulto de armas e cavalos. As patrulhas que passavam de ronda retiraram-se todas a ocupar as entradas do largo, pelo meio do qual, através das árvores, iluminando sinistramente a solidão, perfilavam-se os postes melancólicos dos lampiões de gás.
Apareceu, então o préstito dos exilados.
Nada mais triste. Um coche negro, puxado a passo por dois cavalos que se adiantavam de cabeça baixa, como se dormissem andando. À frente duas senhoras de negro, a pé, cobertas de véus, como a buscar caminho para o triste veículo. Fechando a marcha, um grupo de cavaleiros, que a perspectiva noturna detalhava em negro perfil.
Divisavam-se vagamente, sobre o grupo, os penachos vermelhos das barretinas de cavalaria.
O vagaroso comboio atravessou em linha reta, do paço em direção ao molhe do cais Pharoux. Ao aproximar-se do cais, apresentaram-se alguns militares a cavalo, que formavam em caminho.
-É aqui o embarque? - perguntou timidamente uma das senhoras de preto aos militares. O cavaleiro, que parecia oficial, respondeu com um gesto largo de braço e uma atenciosa inclinação de corpo.
Por meio dos lampiões que ladeiam a entrada do molhe passaram as senhoras. Seguiu-as o coche fechado. Quase na extremidade do molhe, o carro parou e o Sr. D. Pedro de Alcântara apeou-se - um vulto indistinto entre outros vultos distantes – para pisar pela última vez a terra da pátria.
Do posto de observação em que nos achávamos, com a dificuldade, ainda mais da noite escura, não pudemos distinguir a cena do embarque. Foi rápido, entretanto. Dentro de poucos minutos ouvia-se um ligeiro apito, ecoava no mar o rumor igual da hélice da lancha, reaparecia o clarão da iluminação interior do barco e, sem que se pudesse distinguir nem um só dos passageiros, a toda a força de vapor, o ruído da hélice e o clarão vermelho afastavam-se da terra.” (Raul Pompéia)
Depois de demitido do cargo que ocupava na Biblioteca Nacional, em 1895, Raul Pompéia suicidou-se.

De lancha, foram levados para bordo do cruzador Parnaiba.
O engenheiro André Rebouças, introdutor, entre nós, do cimento em obras de grande magnitude, só às 09 e 30 h, encontrou com o ex-imperador no navio Parnaíba II, que partiu às 11 horas na direção do litoral de Angra dos Reis. Coube ao Capitão-de-Fragata José Carlos Palmeira, comandante do cruzador, a dolorosa incumbência de levar a comitiva até a enseada do Abraão, na Ilha Grande, onde deveria transferir-se para o Alagoas II, que a conduziria em sua viagem de exílio.
O navio Alagoas, então pertencente a Companhia Brasileira de Navegação a Vapor, posteriormente Lloyd Brasileiro, foi temporariamente incorporado à Esquadra em 1889, para conduzir à Família Imperial ao exílio na Europa. Nas primeiras horas do dia 18 de novembro(segunda-feira), sob o comando do Capitão-de-Longo-Curso José Maria Pessoa, deixou a Enseada do Abraão com destino a Portugal. Chegou a Lisboa em 7 de dezembro.


MORTE DE DONA TERESA CRISTINA
Dona Teresa Cristina, esposa de Pedro II, durante toda a viagem transatlântica que conduziu a Família Imperial rumo ao exílio, esteve em estado de choque, entorpecida pelo tratamento desumano e covarde que os republicanos dedicaram com muito gosto à dinastia deposta. Ao embaixador da Austria, conde Wisersheimb, presente no embarque, perguntou? “Que fizemos para sermos tratados assim?” Chegando em Portugal retirou-se para a cidade do Porto, onde sentiu-se muito mal. Um médico fora chamado as pressas nada podendo fazer, falecendo vítima de uma síncope cardíaca agravada por acentuado estresse emocional, no dia 28 de dezembro, menos de dois meses depois do golpe militar de 15 de novembro de 1889. Suas últimas palavras teriam sido: “Brasil, terra abençoada que nunca mais verei”.
Não bastasse muito recentemente “o rigor da iníqua sorte, atroz e sem piedade, arrancando o trono e a majestade de D. Pedro II, quando a dois passos já estava da morte", logo em seguida, o falecimento da pessoa que ele aprendeu a amar aos poucos, dia-a-dia, embora tenha sido infiel em algumas ocasiões. Profundo sentimento de perda transbordou em seu diário: “Não sei como escrevo. Morreu haverá meia hora a imperatriz, essa santa (...) Ninguém imagina minha aflição. Somente choro a felicidade perdida de 46 anos (...) abriu-se na minha vida um vácuo que não sei como preencher.”
EXILÍO NA FRANÇA E A MORTE DA CONDESSA DE BARRAL Viuvo, exilou-se na França vivendo entre Cannes, Versalhes e Paris. Frequentava biblioteca, concertos e conferências. Nesse período passou algumas temporadas na residência da Condessa de Barral em Cannes, Luisa Margarida Portugal de Barros, que quando viveu no Brasil foi preceptora das suas filhas princesas imperiais Isabel e Leopoldina Agusta. Ela possuia personalidade exuberante, ar acertivo, inteligência incomum, aspectos diferentes de sua esposa Dona Teresa Cristina. Pedro II sentia-se atraído por mulheres assim, ou seja, pessoas intelectualizadas. Dessa forma, tornou-se amiga íntima do Imperador, em tom romântico, que duraria até o ano da morte de ambos. Por Luisa, além de amor tinha tremenda admiração intelectual, sentimento platônico absolutamente revelado por ocasião de sua morte, em janeiro de 1891: “Nunca conheci inteligência assim, e sempre a mesma durante 50 anos. Estou deveras no vácuo.” Faleceu poucos meses antes do Imperador. Mais uma perda fatal, dolorosa, irreparável, em curto espaço de tempo.

FUNERAIS DE IMPERADOR PARA D. PEDRO II
A partir daí, física, moral e emocionalmente abatido, não conseguiu mais ter razão para viver conforme gostaria. Decidiu, então, entregar-se a uma vida solitária, cercando-se de livros e recebendo esporádicas visitas de amigos. Instalou-se num hotel modesto, na Rua Arcade nº 17, Paris, onde passaria seus últimos dias. Com o organismo debilitado, uma ferida no pé que o obrigou a não mais sair do hotel, assim viveu os últimos dias da sua existência.

Pressentindo que já estava bem próximo da morte, numa questão de horas ou poucos dias, eternizou em seu inseparável diário: “Já clareia (...) aguardo o dia. 5h30. Não posso nada fazer. Não tenho perna nada capaz nem luz. Enfim é uma maçada.”
Em dezembro de 1891, foi vitimado de uma pneumonia aguda no pulmão esquerdo e morreu, aos 20 minutos do dia 5 de dezembro, três dias após completar 66 anos de idade, no hotel Bedford onde residia. Dentro do travesseiro no qual repousava a cabeça estava as terras do Brasil, que pediu no lugar da quantia de 5 mil contos de reis, no dia 16 de novembro de 1889, após haver recusado oferta humilhante determinada pelo Governo Provisório da República do Brasil, para prover “à decência da posição da família do ex-Imperador e às necessidades do seu estabelecimento no estrangeiro.” Ultimas palavras do seu pensamento foram: Nunca esqueci do Brasil. Morri pensando nele. Que Deus o proteja. "Conheci muitos figurões, mas nunca vi um cujo tratamento igualasse o de dom Pedro em cortesia", escreveu o autor de seu obituário no The New York Times. O governo republicano francês, na pessoa do então presidente Sadi Carnot, rendeu honras imperiais aos restos mortais de nosso Imperador, ao contrário do governo republicano do Brasil que sob as desculpas de "evitar descabidas re-vivências do espírito monárquico" resolveu não participar, oficialmente, das manifestações de pesar. Nenhuma manifestação de consideração ou respeito. Total ausência de humanidade. "O cortejo fúnebre foi acompanhado por mais de 200 mil pessoas e o governo francês destacou 80 mil soldados para fazerem as honras e o acompanhamento do caixão. Por onde ia passando, os soldados apresentavam armas." A imprensa francesa realizou uma ampla cobertura sobre a morte do Imperador e de seu solene enterro, ressaltando aspectos elevados de sua personalidade, sua excepcional erudição e seus dotes políticos. Após as homenagens, o ataúde que conduzia os restos mortais de D. Pedro II foi levado a um trem especial que o conduziu a Lisboa. Na capital portuguesa , após a celebração das Exéquias, na Igreja de S. Vicente de Fora, pelo Cardeal de Lisboa e 12 bispos, foi o Imperador sepultado no Panteão dos Braganças, ao lado da Imperatriz D. Teresa Cristina. Devido a Lei do banimento decretada pela ditadura militar, liderada pelo Marechal Deodoro, contra os indefesos Pedro e sua família, seus despojos somente retornaram ao Brasil muitos anos depois do golpe da Proclamação da República de "15" de novembro de 1889, para repousarem, ao lado da Imperatriz Teresa Cristina, na Catedral de São Pedro de Alcântara, cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro. ..................................................................................... No exílio, o Imperador D. Pedro II compos os sonetos abaixo.
Neles transbordou os mais profundos sentimentos da alma.
INGRATOS
Por D. Pedro II
Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais feroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a magestade
Quando a dous passos só estou da morte.
Do jugo das paixões, minha alma forte,
Conhece bem a estulta vaidade,
Que hoje da contínua felicidade
E amanhã nem um bem que nos conforte.
Mas a dor que escrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,
É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pos outrora.

................................................................................................... Terra do Brasil
  • D. Pedro II
Espavorida agita-se a criança,
De noturnos fantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descansa.
Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugilo de terra; e neste creio
Brando será meu sono e sem tardança...
Qual o infante a dormir em peito amigo,
Tristes sombras varrendo da memória,
ó doce Pátria, sonharei contigo!
E entre visões de paz, de luz, de glória,
Sereno aguardarei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da história!

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